sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Do verde que temos, por Regina Pascoa



A Regina amiga e aluna da escola tem uma coluna quinzenal no jornal Amazonas em Tempo, o artigo abaixo foi publicado no domingo dia 22/02/09;




Do verde que temos
Ao Sr. Nissim Pazuello


O avião levanta vôo, alcança a altura suficiente para se olhar Manaus em quase toda a sua extensão. A cidade desnuda-se sob os meus olhos.
Telhados coloridos, blocos de concreto e barro que vistos do alto mostram-se diminutos e até graciosos. Aqui e ali um pouco de verde, mas muito de quando em quando mesmo. E a expressão não pode ser outra : pouco verde.
Mas êsses aglomerados que do alto dão-nos a impressão de graciosidade são extensões de pedra, cimento e amianto sem uma nesga sequer do luxuriante verde que cerca a cidade já nos seus limites.
Causa impressão constatar à olho nú, quando tudo se nos mostra menor e mais possível de se obter uma panorâmica mais ampla, a patente ojeriza do povo da cidade ao verde.
Porém o que é muito preocupante é verificar que, quanto mais novo é o bairro, maior é a ausência de vegetação. Isso é incontestável.
Mesmo sendo amazonense, com a formação toda feita em Manaus, desde sempre pergunto-me. Por que os meus conterrâneos rejeitam com tanta veemência o verde?
O mais curioso é que nem sempre foi assim.
Por relatos e retratos da nossa história temos a imagem de uma cidade muito mais arborizada com residências ajardinadas e logradouros públicos nos quais abundava o verde.
Ao longo dos anos a cidade foi mudando, cedendo seus espaços ao concreto em detrimento da sua exuberante flora.
A antiga Villa Municipal, que no princípio do século passado era reduto de residências aprazíveis e chácaras bucólicas e hoje tem o nome de Adrianópolis, foi mudando de cara. De cara e de caráter.
Fincaram-se aí edifícios vistosos, aliciantes lojas de moda, convidativos restaurantes, postos de gasolina, escolas de ensino de línguas, academias de ginásticas e tudo o que as necessidades do homem de hoje exigem.
Mas será tudo mesmo?
E a indispensabilidade de conviver com a natureza não precisa ser suprida? Onde encontrar, no bairro em questão tomando-o como exemplo, um lugar onde se possa ficar ao ar livre, gozando da sombra e brisa proporcionados por um arvoredo, plantas e flores para serem admiradas e pássaros para serem admirados e ouvidos? Onde as crianças desse cotidiano urbano possam brincar em contato com a natureza. Até mesmo onde se possa levar o cão para passear ( aliás em Manaus não é permitido levar cães aos “parques”
Em toda a cidade cresce vertiginosamente a construção civil e em contrapartida , com a mesma celeridade, diminui o verde
O cidadão que devasta o verde em torno de sua morada, não permitindo nem mesmo uma tímida folhinha, substituindo esse espaço por extensos pátios, monótonos e quentes, é um resistente convicto ao verde.
Por isso concluo que êle não apenas tem aversão ao verde, mas o odeia e portanto resiste ao seu vicejar.
Não sabe êle o quanto é prazeroso ter, em pleno bairro em questão, apesar de toda a apelação mercadológica, uma escola de equitação, imprensada sim , entre toneladas de concreto, mas lá, corajosa, presente e com que meritória resistência.
O dono desse espaço guarda-o como uma jóia rara. E sendo jóia não caberia melhor dize-la incrustada?
A ganância não o tiranizou. Não só êle, porém muitos sabem o quanto vale ali o m de terreno.
A diferença é que êle sabe e os demais não , que é muito mais gratificante e comprazível conservar esse paraíso que lhe encanta os olhos e apacenta a alma, equilibrando o convívio entre humanos e natureza, do que aumentar um pouco mais a sua conta bancária.

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