terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Sobre equitação e liderança, adaptado de Bjark Rink

A equitação é, sobretudo, um exercício de liderança e exercer uma liderança é basicamente saber se fazer obedecer.

Quando um homem e um cavalo, vindos de duas organizações sociais com estruturas básicas semelhantes, mas com linguagens diferentes, se unem para formar um conjunto eqüestre, o elemento mais importante para o sucesso esportivo deste empreendimento é a capacidade do homem de entender quais são os deveres e limites da sua liderança. Em outras palavras - para fazer o cavalo obedecer, é importante entender os princípios que regem a hierarquia eqüina. Por exemplo, dentro de um grupo de eqüinos há uma escala hierárquica do primeiro ao último individuo do grupo.
O homem também sabe que não existe igualdade no exercício do poder. Portanto o primeiro passo para o cavaleiro ter sucesso esportivo é assumir a liderança do conjunto – cavalo e cavaleiro. Na boa equitação esta liderança será firme, justa, leal e também trará satisfação para o liderado.
Mas demagogia a parte o exercício da liderança estimula o melhor e o pior do caráter humano, a forma mais elementar de se fazer obedecer é através da repressão e da tirania, temos como exemplo o modelo exercido nas organizações militares - A forma repressiva de liderança se consolidou porque ela é mais econômica - dispensa muita conversa, sutileza e diplomacia,
Diria que desde a Europa Renascentista as técnicas de equitação foram também exercidas com os critérios disciplinares copiados do exército. Mas a equitação evoluiu dos quartéis para os esportes e nasceu a equitação esportiva, onde paciência, disciplina, sensibilidade, dedicação e compreensão dos métodos e limites individuais de cada parte no conjunto eqüestre é que levam ao sucesso da liderança.

Os conceitos básicos de liderança servem tanto para governar uma nação, como administrar uma empresa ou equitar um cavalo. Se um cavalo for submetido a uma equitação tirânica, ele poderá ser conduzido ao desespero e à rebeldia. Se, ao contrário, um animal for submetido à uma equitação sem liderança ele saberá assumir o comando das rédeas. Assumir a liderança ou se submeter a uma posição subalterna é para o cavalo, natural e necessário - porque é dessa maneira que ele sobreviveu como espécie durante milhões de anos.

E a liderança, como tudo na vida, pode ser exercida de maneira inteligente ou “de outra forma”. É inteligente quando atinge um alto nível de satisfação e realização para líder e liderados ou “de outra forma” quando a liderança serve apenas para a realização pessoal do líder e para conseqüente e inevitável insucesso ou queda do poder. A equitação é uma metáfora da vida e a queda do poder e do cavalo estão geralmente ligados à incompetência no exercício da liderança.

Na equitação esportiva o cavalo atleta tem necessidades básicas, tanto fisiológicas quanto psicológicas, que precisam ser satisfeitas para que ele atinja um alto nível de performance. A forma mais adequada de liderança, e a melhor para se lidar com a natureza do animal, é o modelo de liderança esportiva onde o carisma e a capacidade de inspirar os atletas a darem o máximo de si é a alma do sucesso. Aquele décimo de segundo a menos na cancha de corrida, aquele centímetro a mais da vertical do salto e o toque extra de precisão no adestramento são impossíveis de se obter por meio de coação. Aquele "algo mais" surge da absoluta cumplicidade entre líder e liderado, quando estes fundem as suas qualidades para se tornarem uma só força avassaladora na conquista dos seus objetivos.

A decisão de se tornar cavaleiro envolve, mais do que tudo, assumir uma liderança inteligente: motivar o cavalo; desenvolver a sua vocação atlética; reconhecer os seus limites psicológicos e físicos e encontrar solução que favoreçam o seu desempenho. Não é por acaso que a liderança e a equitação estão associadas ao progresso individual e social do Homem desde que os primeiros bandos de guerreiros nômades aprenderam que, com o cavalo e a equitação, eles tinham descoberto a chave da liderança do mundo.

A sensibilidade de desenvolver uma liderança inteligente, de assumir responsabilidades, de resolver problema de reconhecer o erro e tentar acertar de novo, está na base do sucesso - qualquer sucesso.

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